Não tenho dúvida que estamos no meio de um florescimento do calvinismo no Brasil. É impressionante a quantidade de irmãos, especialmente de jovens, de todas as denominações históricas, pentecostais e neopentecostais (por mais incrível que isso signifique), que estão fascinados com os grandes temas da Reforma Protestante. Estão descobrindo Calvino, Lutero, Owen, Edwards, Spurgeon, Zwinglio, Kuiper, Lloyd – Jones e muitos, muitos outros grandes teólogos e escritores Reformados.
Muitos estudantes de teologia já chegam aos Seminários com algum grau de compreensão do que foi a Reforma Protestante e de seus temas dominantes, tais como a “justificação pela fé”, a “autoridade final e a infalibilidade das Escrituras Sagradas”, o “sacerdócio universal dos santos”, a “depravação total da ração humana”, “eleição incondicional”, a “graça irresistível”, a “perseverança dos santos” o “mandato cultural” e etc. Antigamente era comum os seminários receberem alunos que somente dominariam tais temas após os estudos da História da Igreja ou da soteriologia (doutrina da salvação). Hoje, diferentemente, muitos estudantes, mesmo no primeiro período do curso, esboçam nas primeiras aulas alguma familiaridade com os tópicos da Teologia Reformada. É um fenômeno que varre o Brasil de ponta a ponta, em todos os cantos. Contudo, não é um fenômeno brasileiro apenas, mas mundial (a prestigiada revista TIME publicou há alguns anos uma matéria sobre o neocalvinismo nos Estados Unidos da América).
Expositores calvinistas estão entre os pregadores contemporâneos mais conhecidos e admirados pela fidelidade às Escrituras que demonstram ter. Nomes como John Piper, Tim Keller, Mark Dever, Alister McGrath (e até bem pouco tempo, Mark Driscoll) nos Estados Unidos e no Reino Unido e, aqui no Brasil, Augustus Nicodemus Lopes, Davi Charles Gomes, Franklin Ferreira, Jonas Madureira, Hernandes Dias Lopes, Antônio Carlos Costa, Renato Vargens, Heber Carlos Campos Jr e outros são frequentemente lembrados quando se analisa o fenômeno calvinista.
Os Congressos de exposição da Teologia Reformada estão entre os mais concorridos, como são os casos da FIEL (São José dos Campos – SP), Semana da Fé Reformada (Goiânia – GO), Consciência Cristã (Campina Grande – PB), Semana Teológica (Niterói – RJ). Sem falar do surgimento de instituições de ensino teológico que primam por seguir, além das Escrituras Sagradas, as grandes Confissões de Fé Reformada e zelar pela contratação de professores comprometidos com a teologia da Reforma.
Congregações locais e até mesmo denominações estão definindo o calvinismo como sua teologia oficial. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, igrejas pentecostais e até mesmo uma Assembleia de Deus declararam-se calvinistas.
Como explicar tal fenômeno? Quais as razões para esse avivamento calvinista em terras brasileiras?
Em primeiro lugar, há muitos cristãos evangélicos cansados e desanimados com o movimento gospel. Movimento esse responsável pela produção de uma indústria de entretenimento dentro das igrejas que transformaram o culto a Deus em show, com cantores e pregadores da teologia da prosperidade, cobrando cachês altíssimos, com postura e exigência de astros de cinema. Esses mesmos cantores e pregadores são os que popularizam aberrações teológicas nas composições das letras e no conteúdo das pregações. Que criam chavões, palavras de ordem, maneirismos, gestos e coreografias, mas que não saciam a alma sedenta e faminta dos ouvintes, que cantam, aplaudem, gritam, rodam e sapateiam no culto, mas que, após, voltam para suas vidas e casas completamente vazios e desnutridos espiritualmente, pois não ouviram a pregação bíblica, não foram alimentados com os pastos verdes tão fartamente presentes na Palavra de Deus. Destarte, quando se deparam com expositores calvinistas, cuja ênfase na exposição da Palavra de Deus e no culto centrado em Jesus Cristo, é notória, a reação. É como a de alguém que acabou de encontrar um antídoto ao veneno que estava em seu corpo. E o calvinismo, com sua ênfase na glória e soberania de Deus, na obra expiatória, vicária e satisfatória de Jesus Cristo, na suficiência, infalibilidade inerrância das Escrituras Sagradas, na dependência do Espírito Santo, na justificação pela fé, no sacerdócio universal dos crentes, na defesa da combinação da mente iluminada com o coração aquecido (“luz na mente e fogo no coração”), revela-se realmente como antídoto e resposta a muitos dos males que assolam a igreja brasileira. A atração é inevitável!
Em segundo lugar, temos o encontro das tradições calvinistas com a dos pentecostais e neopentecostais. Enquanto o calvinismo era uma lente teológica de grupos históricos apenas (como os presbiterianos e congregacionais, por exemplo) não era tão popular no Brasil. Todavia, à medida que grupos de pentecostais e neopentecostais, que são majoritários no cenário protestante brasileiro, começaram a se aproximar do calvinismo, popularizá-lo seria questão de tempo.
A internet e as redes sociais seriam um terceiro fator para explicar o sucesso do calvinismo. Com o acesso facilitado através de e-mails, blogs, sites, páginas no Facebook, twitter e whatsapp, onde textos e vídeos contendo mensagens de pregadores reformados em Conferências Teológicas e a fins circulam livremente, muitos evangélicos brasileiros, especialmente os jovens (os maiores usuários destas ferramentas), entraram em contato com o universo teológico em torno do calvinismo.
As editoras e livrarias, aos montes, em todo o Brasil também estão dando as suas contribuições, pois estão disponibilizando obras de autores calvinistas, deixando –os conhecidos nacionalmente. A própria CPAD, uma das mais importantes do país, ligada a Convenção Geral das Assembleias de Deus do Brasil, tem publicado muitos livros de autores calvinistas que estão entre os mais vendidos, como é o caso, por exemplo, das obras de John F. MacArthur Jr. (pastor batista calvinista americano). O interesse é tão grande que incomoda, pois muitos irmãos assembleianos estão protestando contra aquilo que consideram uma avalanche calvinista nos arraiais arminianos e pentecostais da Assembleia de Deus. Há paginas no Facebook e sites discutindo a questão.
Finalmente, os Congressos de teologia Reformada mencionados acima, colocam a cereja em cima do bolo. Realizados em hotéis ou em igrejas, as Conferências colocam lado a lado irmãos desejosos de conhecer e conversar pessoalmente com os grandes pensadores da Teologia Reformada no Brasil. Quando voltam para as suas cidades e igrejas, levam consigo a tocha das grandes doutrinas da graça de Deus!
Estamos no ano das celebrações dos 500 anos da Reforma Protestante (1517- 2017). Teremos muitas notícias acerca de Conferências, Congressos e Simpósios, além de publicações que irão abordar o tema. Portanto, ainda veremos os efeitos mais intensos desta onda que atravessa o nosso país.
Que assim seja!
Soli Deo Gloria!
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