"Graça Irresistível" – 4° PONTO DO CALVINISMO



Vocação eficaz ou GRAÇA IRRESISTÍVEL é uma doutrina do qual a graça divina é irresistível para os crentes, isto é, o Espírito Santo acaba convencendo e infundindo a fé salvadora neles.

Em seu livro What We Believe About the Five Points of Calvinism, Desiring God, John Piper afirma:

“A doutrina da graça irresistível não significa que toda influência do Espírito Santo não pode ser resistida. Significa que o Espírito Santo pode sobrepujar toda resistência e tornar sua influência irresistível.”
ENTENDA MELHOR:
 
Há um chamado “externo” que vem da pregação e exposição da Palavra de Deus, dada a todas as pessoas que entram em contato com o Evangelho. E também há um chamado “interior” (ou vocação interna e eficaz) dada pelo Espírito de Deus, o qual opera o novo nascimento. A regeneração é uma experiência que pertence somente aos eleitos. É exatamente esta chamada “interna” que chamamos de Chamada Eficaz. A Chamada Eficaz atinge somente os eleitos! É um ato especial do Espírito Santo. O papel do Santo Espírito de Deus é melhor explicado nessas palavras: “aprouve Ele [Deus], no tempo por Ele determinado e aceito, chamar eficazmente, por Sua Palavra e por Seu Espírito, daquele estado de pecado e de morte, em que estão por natureza, à graça e salvação por meio de Jesus Cristo; iluminando suas mentes espiritual e salvificamente para entenderem as coisas de Deus; removendo seus corações de pedra e dando-lhes um coração de carne; renovando sua vontade e, por Seu infinito poder, determinando-lhes o que é bom, e eficazmente atraindo-os a Jesus Cristo; mas de tal forma que eles vêm livremente, sendo para isso dispostos por Sua graça. Quem não for eleito, ainda que seja chamado pela Palavra de Deus, jamais virá a Cristo Jesus! Simplesmente ele não se achegará a Cristo. Só o chamado externo é insuficiente para habilitar um pecador a vir a Jesus Cristo. Os não-eleitos jamais aceitarão ao Senhor Jesus Cristo.”


A graça salvadora é um favor de Deus não merecido por nós. É soberana e depende exclusivamente da Vontade Divina. A graça é oposta ao mérito. Ainda que Deus ofereça misericórdia a toda a humanidade, sob a condição de arrependimento, Sua graça é concedida a um grupo eleito. A graça é a causa única da salvação; portanto, esta não se baseia em nenhuma contribuição humana. A graça na vida do crente é multiforme. A graça nos possibilita a caminhar com Deus e nos dá poder para fazer Sua obra. Só Deus é a causa da graça, mesmo que Ele requeira que os cristãos apliquem fielmente os meios que Ele pôs a sua disposição para crescer.

A graça é irresistível, porque Deus muda a inclinação do coração do eleito para o mal pela total submissão a Ele, trocando-lhe o coração de pedra por um de carne, segundo a figura bíblica e, pela ação do Espírito Santo, predispondo-o a aceitar, voluntariamente, o evangelho e a salvação em Jesus.


Alguns textos bíblicos mostram essa predisposição: “A mão do Senhor estava com ele, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor” (At 11.21) – “Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (At 13.48) – “Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia” (At 16.14).

Deus elegeu antes da fundação do mundo, mas chama o eleito para servi-Lo, no tempo, condicionando-o a aceitá-lo, como vimos acima. A essa chamada denominamos de VOCAÇÃO EFICAZ.

Aqueles a quem Deus chama vão a Ele, na pessoa de Jesus Cristo, que disse: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (João 6.37) – “Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste” (João 17.24) – “Manifestei teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu nos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra (João 6.6).

A graça se mostra ainda mais irresistível porque é fruto do amor de Deus para com o eleito. João, referindo-se a Deus, afirma, em 1João 4.19: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro”. E o próprio Deus declarou como foi que nos atraiu para Ele: “Atraí-os com cordas humanas, com laços de amor “ (Os 11.4).

Embora a Vocação Eficaz esteja em evidência nas Escrituras alguns arminianos usam certos textos para se opor a essa doutrina, iremos analisar alguns (Trechos retirados do artigo de Álvaro Rodrigues – Algumas objeções contrárias a doutrina da Graça irresistível – disponível em Bereianos.blogspot.com.br)

“A graça irresistível é um erro, pois implica dizer que Deus concede a graça salvífica apulso, por força ou violência, para os tais eleitos”. 

Resposta: Tal objeção não faz o menor sentido. Por que? Simples, quando se usa expressões tais como “salvar na marra, apulso ou por violência” isto implica em resistência ou relutância da parte de quem, no momento, está sofrendo a ação. Mas a graça irresistível não ensina que, enquanto Deus está regenerando, o homem se encontra resistindo a tal regeneração, como se Deus dissesse “eu estou neste momento te transformado”, e o homem replicasse “não, não, pare com isto”. Claro, bem sabemos que o homem não-regenerado é inimigo de Deus e a resistência às coisas de Deus é algo comum em sua vida.


Porém a resistência natural deste homem às coisas de Deus é anterior ao momento em que a regeneração está sendo efetuada. Em outras palavras, não há resistência à obra regeneradora no momento em que ela está acontecendo; a resistência é anterior ao momento. A resistência é ao chamado externo, ou a pregação. Deus salva eficazmente, de uma forma tão gloriosa, que em momento algum a vontade do homem é violentada. Simplesmente há uma mudança no coração do homem. Deus, milagrosamente, transforma o coração de pedra, que é naturalmente indisposto a crer, em um coração de carne que é disposto a crer. Este milagre é maravilhosamente descrito pelo profeta Ezequiel (Ez 36:26-28).

Mas se mesmo depois de o arminiano ter lido esta argumentação, e continuar afirmando que a graça irresistível é inconsistente, visto que “violenta a vontade humana”, eu poderei também dizer que o arminianismo, com a sua incoerente regeneração parcial, também sofre do mesmo problema. No arminianismo, os homens são incapazes de crer, e por serem incapazes, Deus tem regenerado parcialmente os homens que são alcançados pelo evangelho, e faz isto sem considerar a escolha dos homens de quererem ser ou não regenerados parcialmente. Ora, como alguém foi “transformado parcialmente” sem “nunca ter pedido tal transformação” e mesmo assim não ser uma transformação que violenta a vontade da criatura? Se Deus não considerou a liberdade da criatura, foi na marra que Ele a regenerou parcialmente? A regeneração parcial é uma graça preparatória dada por Deus aos homens de uma forma que violenta a vontade desses homens? E não fará sentido o arminiano dizer que Deus concedeu a regeneração aos homens, visto que estes escolheram recebê-la. Por que? Simples, no arminianismo é impossível “escolher” sem antes ser regenerado parcialmente.

Os arminianos acreditam em livre-arbítrio libertário, isto é, um arbítrio que tornou-se livre após a ação da regeneração parcial. Observação: Qualquer bom entendedor saberá que não estou dizendo que o arminianismo ensina uma regeneração parcial na marra. E eles podem até mesmo usar o nosso argumento acima para defender que não há violência nenhuma da parte de Deus sendo dirigida a vontade humana. Então, a minha questão é dizer que: se há incoerência com a graça irresistível, então há também com a regeneração parcial arminiana.

“A graça irresistível é falsa, pois a bíblia claramente ensina que muitos tem resistido a graça de Deus”. 

Um versículo muito utilizado pelos arminianos na tentativa de sustentar esta objeção é Atos 7:25. Resposta: Primeiramente, levando em conta todo o contexto do versículo, o “resistir ao Espírito Santo” aqui é primeiramente uma referência aos Israelitas, que assim como os seus pais, que constantemente rejeitavam os anúncios e ordens dos profetas do Antigo Testamento (que foram incumbidos por Deus de anunciarem o arrependimento, mediante os preceitos descritos na Lei), eles agora resistiam da mesma forma a ordem de arrependimento, dada pelos evangelistas e apóstolos, mediante a pregação do evangelho. 

Em segundo lugar, para entendermos que o texto não ensina que a vontade de Deus pode ser frustrada pelo querer humano, se faz necessário expor os dois aspectos da vontade de Deus, tais como: o “prescritivo e o decretivo”. O primeiro é uma referência aquilo que Deus quis que seriam os seus mandamentos; estes mandamentos são constantemente resistidos. O segundo é com referência ao plano eterno de Deus; aquilo que Ele soberanamente decidiu fazer ou decretar. Tendo então esta distinção em mente, entendemos que o problema aparente do versículo em questão é solucionado. 

A VONTADE DE DEUS: PRESCRETIVA E DECRETIVA 

Na Bíblia vemos Deus decretando algo que Ele, em seus mandamentos, não ordena. Por exemplo, Ele de forma nenhuma, em seus mandamentos, ordenou Pilatos, Herodes, os Judeus e gentios, matarem à Cristo. Muito pelo contrário, Ele em seus mandamentos diz “não matarás” (Ex 20:13) Porém, sabemos que a mesma Escritura nos revela que Ele decretou a morte de Seu Filho juntando todos estes personagens “para fazerem tudo o que a Sua mão e conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer” (At 4:28). Ou seja, neste versículo fica claro que Deus decretou a morte de Cristo, e isto usando meios. E os meios são os próprios os homens os quais Ele ordena “não matarás”. Em Ex 20:16 Deus, em seus mandamentos (aspecto prescritivo), condena de forma clara a mentira. Porém Ele mesmo enganou um profeta (aspecto decretivo) em determinada ocasião para o cumprimento de seus propósitos (Ez. 14:9,10). E também fez o mesmo com Acabe, quando “pôs o espírito de mentira” (aspecto decretivo) na boca dos profetas para enganá-lo, dizendo que ele (Acabe) venceria a batalha, sendo que isto jamais aconteceria (1 Rs 22:19-23). 

Em Ex 4:21-23 o Senhor ordena que Faraó (aspecto prescritivo) “deixe o povo de Israel ir”. Mas no cap. 8:1 o Senhor diz que endurecerá o coração de Faraó (aspecto decretivo) para que “não deixe ir o povo”. Ou seja, Deus decretando algo que Ele nunca ordenou. Cristo, em Mc 16:15, nos ordena pregar o evangelho a toda a criatura (aspecto prescritivo). Entretanto, nem sempre é de sua vontade que isto aconteça (Tg 4:15), como é o caso de Paulo e seus companheiros que foram impedidos, pelo Espírito Santo, de pregar o evangelho na Ásia e Bitínia (At 17:6,7). A ordem de Deus (aspecto prescritivo), era que os irmãos de José deveriam amá-lo e não vendê-lo como escravo. Porém, o próprio José diz “Assim não fostes vós que me enviastes para cá, senão Deus, que me tem posto por pai de Faraó, e por senhor de toda a sua casa, e como regente em toda a terra do Egito” (Gn 45:8).

Diante destes exemplos, e do claro ensino bíblico da vontade de Deus, entendemos então que o “resistir ao Espírito Santo” não quer dizer que Deus desejava salvar alguém e este alguém frustrou os Seus planos. O texto fala simplesmente do aspecto prescritivo da vontade de Deus que é “ordenar a todos os homens o arrependimento” (At 17:30). Isto é, Deus desejou que os profetas e apóstolos pregassem o arrependimento, o que não quer dizer que Deus queria o arrependimento dos que jamais se arrependeriam. O ato de resistir aos profetas significa resistir ao aspecto prescritivo da vontade de Deus; aspecto este que tinha como único objetivo ORDENAR O ARREPENDIMENTO. Em última instância, o que há no texto é um “resistir da ordem para se arrepender” e não um resistir “à vontade de Deus para salvar”. Há uma enorme diferença entre “Deus querer ordenar o arrependimento” e “querer salvar”. Na Bíblia, em certas ocasiões, a ordem de arrependimento feita por Deus através da Lei e do evangelho, tem a finalidade de endurecer ainda mais o réprobo (Is 6: 9-11, Mc 4:11,12, 2 Co 2:15-18).

A BÍBLIA RESPONDE:
A VONTADE DE DEUS É FRUSTRADA PELO QUERER HUMANO?

“Bem sei eu que tudo podes, e NENHUM DOS TEUS PROPÓSITOS podem ser impedidos”. (Jó 42:2) 
SE DEUS PENSOU EM SALVAR A TODOS, PORQUE TODOS NÃO SE SALVARAM?
“O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará.” (Isaías 14:24) 

Se de fato a intenção de Deus fosse salvar a todos assim aconteceria, pois ele mesmo diz :“O Senhor dos Exércitos jurou, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará.” Isaías 14:24. Ao dizermos que a vontade de Deus era de salvar a todos porém isso não acontece devido a vontade do homem, estamos afirmando que a vontade de Deus foi frustrada e que o homem é quem realmente governa, um ensino perigoso e contrário as Escrituras. 

A graça irresistível é, portanto, uma graça triunfante; ela é a demostração de que Deus é soberano em regenerar os eleitos, objetivando com isto a salvação dos tais. Podemos então concluir dizendo que: a graça irresistível, de forma alguma, prega uma salvação na marra, apulso, ou que viola a vontade da criatura. Que a graça irresistível é a confirmação de que a vontade de Deus é, e sempre será, realizada. E que até mesmo o aspecto prescritivo da vontade de Deus que é resistido, é resistido por que Deus em seu decreto assim o quer. De sorte que Deus continua e continuará soberano sobre todas as coisas.
 
VERSÍCULOS SOBRE A GRAÇA IRRESISTÍVEL:
Is 14:27/ Ez 11:19/ Ez 36:26/ Mt 11:27/ Lc 14:16-24/ Jo 1:12-13/ Jo 5:25/ Jo 6:44-45/ Jo 10:16,26,27/ Jo 15:5/ At 2:39 / At 16:14/ At 26:18/ Rm 8:29-30/ Rm 9:11-12/ 1 Co 1:23-24/ 2 Co 4:4-6/ Gl 1:15 / Ef 1:18-20/ 2 Ts 2:13-14 / 2 Tm 1:9/ Tt 3:4-5/ 1 Pe 2:9/ 1 Pe 5:10

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