"Por quem Cristo morreu?" Por Jonathan Gibson




Em suas cartas, Paulo fala da morte de Cristo tanto de uma maneira particularista (por um grupo específico) quanto de uma maneira universalista (por um grupo indefinido, vago). Meu argumento é que esses textos apresentam elementos compatíveis com a teologia paulina da expiação. Os textos universalistas não impedem a possibilidade da expiação limitada em Paulo; antes, a complementam. Um olhar atento para esses textos em si revela que o sentido de “muitos”, “todos” e “mundo” não pode ser interpretado de forma simplista em cada ocasião como significando “todos sem exceção” ou “cada pessoa”. Minha análise revela quatro pontos importantes quando se considera a linguagem universalista em Paulo:

Em primeiro lugar, embora Paulo possuísse o arsenal linguístico para declarar inequivocamente que não houve ninguém por quem Cristo não morreu, ele escolheu não usá-lo. Os termos “muitos”, “todos” e “mundo” permanecem indefinidos e vagos, dependentes de contexto para seus sentidos.

Segundo, o sentido dos termos universalistas “muitos”, “todos” e “mundo” é influenciado por vários fatores contextuais: (1) uma união implícita com Cristo (Romanos 5.12-21; 2 Coríntios 5.14-15); (2) um contexto eclesiástico em que o apóstolo está confrontando o falso ensino que promovia uma cultura elitista e exclusivista na igreja (1 Timóteo 1.4-7; 4.1-8; Tito 1.10, 14-15; 3.9); (3) um contexto literário onde o foco está em “todos os tipos de pessoas” (1 Timóteo 2.4-6; 4.10; Tito 2.11-14); (4) um contexto histórico-redentivo por meio do qual Paulo é apresentado como Apóstolo aos Gentios (Atos 22.15); (5) um contexto teológico em que o monoteísmo é a base para o evangelho ser para todas as pessoas (1 Timóteo 2.5-6; cf. Romanos 3.27-31); e (6) conexões bíblico-internas com textos no Novo e Antigo Testamentos (1 Timóteo 2.6; cf. Mateus 20.28/Marcos 10.45; cp. Isaías 53; Tito 2.14; cp. Ezequiel 37.23). A observação desses fatores nos coíbe de concluir que Paulo tem um sentido distributivo para sua terminologia universalista.

Terceiro, um texto tal como Colossenses 1.20, em que o impacto universal da obra expiatória de Cristo é destacado, acaba se revelando irrelevante para as discussões sobre a extensão da morte substitutiva de Cristo: argumentar retrospectivamente a partir da extensão universal de sua morte é uma dedução ilegítima. Como Romanos 8.19-23 demonstra, a restauração universal de toda criação tem como premissa uma redenção específica – a adoção dos filhos de Deus.

Quarto, os textos “perecíveis” de Romanos 14.15 e 1 Coríntios 8.11 (cf. Atos 20.28) foram apresentados no fim para apoiar a expiação limitada, em vez da universal; e aqueles que desejam usá-los em defesa de uma expiação universal precisam responder às consequências disso para a perseverança dos santos: alguns por quem Cristo morreu são salvos e depois, por fim, perdidos.

Com esses pontos em mente, agora é razoável entender como a linguagem universalista de Paulo é mais do que compatível com seu particularismo. Duas importantes ressalvas, contudo, são necessárias:

Em primeiro lugar, em argumentar por um sentido não-distributivo para os termos “muitos”, “todos” e “mundo”, não quero sugerir que, com esses termos, Paulo queira dizer “muitos eleitos”, “todos os eleitos” ou “o mundo dos eleitos”. Se houve alguns intérpretes reformados que argumentaram dessa maneira, então a exegese deles é infeliz. Calvino provou ser um exemplo melhor a seguir: ele não entra em conflito interpretando o termo “todos” em 1 Timóteo 2 como significando “todos os eleitos”, por um lado, nem defendendo que o apóstolo quer dizer “todos sem exceção”, por outro. Antes, há uma terceira opção: “todos os pecadores sem distinção”. Como Calvino argumentou, a discussão da predestinação é irrelevante para o contexto, mas isso tampouco o leva a concluir que “muitos” e “todos” devem, por isso, necessariamente significar “todo e qualquer indivíduo”. A linguagem de Paulo é deliberadamente indefinida e vaga, e todos os lados do debate deviam respeitar isso.

A razão por que às vezes Paulo usa a linguagem universalista em relação à expiação é porque ele está confrontando a heresia na igreja que promovia a salvação para uma elite e uns poucos distintos. Paulo é enfático em contextos assim: Cristo morreu por todos, pelo mundo, por judeus e gentios. Os termos são histórico-redentivos: Paulo vê o evangelho como o fim das eras em que a graça e amor de Deus devem ser proclamados a todos os povos da terra. Ele é o “grande universalizador do evangelho”. Nesse aspecto, o sentido de “todos sem distinção” deveria ser visto pelo que ele de fato é: superabrangente e inclusivo – ninguém é excluído: nem gentio, nem mulher, nem escravo, nem bárbaro, nem crianças, nem idosos, nem pobre, nem branco, nem negro – ninguém!

Segundo, a dimensão orgânica daqueles por quem Cristo morreu não deve ser negligenciada na teologia paulina da expiação. Paulo apresenta a morte de Cristo por indivíduos (Gálatas 2.20), mas também para todos orgânicos (Atos 20.28; Efésios 5.25; 2 Coríntios 5.19). Como Marido e Cabeça, Cristo morreu por sua noiva e corpo; como Salvador Cósmico, ele morreu pelo mundo; e como o Último Adão, ele morreu por uma nova humanidade. Nesse aspecto, Cristo é verdadeiramente o Salvador do mundo – um número incontável de pessoas de toda tribo, língua e nação.

(Adaptado do capítulo de Jonathan Gibson, “For Whom Did Christ Die? Particularism and Universalism in the Pauline Epistles”, para o livro From Heaven He Came and Sought Her: Definite Atonement in Historical, Biblical, Theological and Pastoral Perspective, editado por David Gibson e Jonathan Gibson [Wheaton, IL: Crossway, 2013] 328–330.)

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